Depois de uma semana chuvosa, finalmente uma trégua. O dia amanheceu em tons de cinza mas o azul lá se ia mostrando. A dúvida pairava no ar até que o sol se decidiu e assumiu o lugar que lhe competia. Óptimo! Hoje os meus planos não iam ser adiados. Glebe aguardava-me. O mercado semanal, as ruas, a herança aborígene e a agitação própria de um Sábado para descobrir.
Primeira paragem: Glebe Markets. Para muitos 'aussies' o fim-de-semana não começa sem uma visita a este mercado, no pátio da Escola Pública de Glebe. Por aqui, vende-se e compra-se arte, crafts, vestuário (roupa e calçado), bijutaria, carteiras, óculos de sol... Das peças de autor às peças em segunda mão, há de tudo um pouco. Um olhar mais atento e percebemos que muitas bancas estão ali para vender artigos que as pessoas tinham em casa e não querem mais. Quem passa, pára e pergunta o preço. Claro que há sempre a tentativa de baixar o preço e até com sucesso. Enquanto observava o cenário montado à minha frente, lembrei-me da Feira da Ladra, em Lisboa. Nesta Terra, somos mais parecidos uns com os outros do que pensamos.
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Vamos lá! |
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Roupa |
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Acessórios |
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O que não faz falta em casa, vende-se no mercado |
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À procura de 'pechinchas' |
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Uns aproveitam para descansar |
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Outros esperam sentados pelos clientes |
Mercado não é mercado sem frescos e comida. Num pequeno canto, escondido bem atrás de todas as outras tendas, vendiam-se compotas, pão, doces, legumes, pão de banana e cereais. Nas proximidades, ficava o 'corredor da alimentação', muito internacional. À disposição dos 'fregueses', cozinha turca, russa, indiana, mexicana, venezuelana e outras.
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Pão |
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Compotas |
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Mini mercearia |
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O corredor da alimentação |
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Cozinha asiática |
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Doces com um toque do Médio Oriente e sem glúten |
Dei as minhas voltinhas, parei aqui e ali, fotografei. Quando estava de saída, uma banca que vendia aguarelas chamou-me a atenção. Voltei atrás para as ver, porque ando à procura de uma de Sydney para a minha colecção. Percebo que são paisagens de outros países e o autor explica-me que são as suas últimas viagens. Sevilha. Lisboa... E nesse preciso momento passa nas minhas mãos uma pintura de um eléctrico da capital portuguesa. Coincidências da vida, não é? Não posso deixar de sorrir e ele pergunta-me se conheço. 'Sim. Muito bem! Sou portuguesa'. Ele dirige-se à namorada e diz-lhe. 'Bom dia', ouço de imediato. Apanhada de surpresa, pergunto se também é portuguesa. Não é. A Martina é italiana, nasceu em Roma, viveu em Portugal até há uma semana e veio à conquista da Austrália com o Matteo (Verona), o namorado. Aprendeu a língua de Camões com um amigo açoriano, adora pastéis de nata e sente falta de um bom café (tal como eu). Quis saber se eu era de Lisboa. 'Não. Sou do Norte', 'Aveiro?', 'Sim. Como sabes?', 'A pronúncia. Estive lá e quando te ouvi, lembrei-me'. O mundo é mesmo muito pequeno! Despedi-me do simpático casal italiano e deixei o mercado.
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Matteo e Martina |
As marcas do passado aborígene encontram-se espalhadas um pouco por toda a cidade. Glebe não é excepção, por isso aproveitei para conhecer um pouco mais da história local. Tirei da mochila outro guia (ando sempre com meia dúzia) e segui as orientações do mapa. Sem o saber, estava mesmo ao lado do primeiro ponto de interesse: a Aboriginal Islander Dance Theatre. Criada em 1975, a companhia foi lançada para promover a dança profissional entre os aborígenes. Funcionou nas instalações da igreja de St. James, até ao final dos anos 90, e quando me preparo para fotografar o edifício, descubro que está à venda. Não é desta forma que se preserva o passado, digo eu.
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A antiga 'casa' da Aboriginal and Islander Dance Theatre |
Seguiram-se o Tranby Aboriginal College, uma cooperativa de ensino que se mantém no activo, e o Lago Northam, no Parque Victoria, uma memória da paisagem que outrora havia naquela área quando os aborígenes lá viviam, antes da chegada dos europeus.
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Tranby |
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Lago Northam |
No final de um dia tão longo, a merecida recompensa chegou...
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Gelado de mascarpone, ricota e morango |
See you soon!